Pallade Veneta - Padres ortodoxos da Moldávia se rebelam contra liderança de Moscou

Padres ortodoxos da Moldávia se rebelam contra liderança de Moscou


Padres ortodoxos da Moldávia se rebelam contra liderança de Moscou
Padres ortodoxos da Moldávia se rebelam contra liderança de Moscou / foto: Daniel MIHAILESCU - AFP

A igreja ortodoxa da localidade de Cimiseni, na Moldávia, debateu durante muito tempo se a sua lealdade deveria estar com o Patriarcado de Moscou ou com a Igreja da Romênia, mas a questão chegou a uma conclusão após a invasão da Ucrânia por tropas russas.

Alterar tamanho do texto:

A paróquia próxima da capital, Chisinau, fica em uma localidade de 2.850 habitantes - a maioria fala romeno. O templo integra um movimento crescente de igrejas que viraram as costas para a liderança de Moscou e optaram pela Metrópole (Igreja) de Bessarábia, vinculada a Bucareste.

A Moldávia tem quase 2,6 milhões de habitantes, a maioria cristãos ortodoxos, e esta ruptura reflete uma disputa mais profunda na ex-república soviética, que aspira aderir à União Europeia e deixar para trás a influência russa.

"Os fiéis começaram a dizer que não queriam mais vir à igreja de Kirill para receber a comunhão", disse à AFP o padre Ioan Solonaru, em referência ao patriarca da Igreja Ortodoxa Russa, que é um defensor da invasão.

A chegada de refugiados ucranianos também sensibilizou a opinião pública na Moldávia.

Desde a invasão, mais de 50 paróquias moldavas deixaram de seguir o Patriarcado de Moscou e optaram pela obediência a Bucareste, segundo a Metrópole da Bessarábia, que está vinculada, em termos de hierarquia, à Igreja Ortodoxa da Romênia.

"Não há mais nada que nos una a Moscou", afirmou Solonaru, 55 anos, que observa de maneira incrédula "a nostalgia de alguns pela União Soviética".

Em uma carta divulgada recentemente, o atual primaz da Igreja da Moldávia ligada a Moscou, o metropolita Vladimir, expressou preocupação.

O clérigo informou a Kirill que existe uma "marginalização" devido a seu vínculo com o Patriarcado de Moscou, percebido pela sociedade moldava como "um posto avançado do Kremlin".

O líder religioso acrescentou que a população da Moldávia busca uma aproximação da Romênia e pediu uma solução para a crise.

Em uma reunião de líderes, após o envio da carta, os clérigos decidiram manter a lealdade a Moscou.

A Moldávia possui atualmente 1.350 paróquias que obedecem ao Patriarcado de Moscou e 200 sob a autoridade da Igreja da Romênia.

"Não nos sentimos em perigo", declarou à AFP Ioan de Soroca, vigário da Metrópole da Moldávia, que segue Moscou, uma diocese que condenou a guerra na Ucrânia, mas sem criticar o patriarca Kirill.

Ele descreveu os religiosos que se afastaram da liderança moscovita como "filhos perdidos que devem encontrar a razão".

- Mensagem pró-Europa -

A invasão russa da Ucrânia, em fevereiro de 2022, acelerou uma tendência pró-Europa na Moldávia, um país que fica entre a Ucrânia e a Romênia - esta última integra a UE.

A Metrópole da Bessarábia recebeu os novos fiéis "de braços abertos", afirmou seu porta-voz Constantin Olariu, no momento em que a Moldávia se prepara para as negociações de adesão à União Europeia.

"É uma mensagem pró-Europa", disse.

A presidente da Moldávia, Maia Sandu, pediu recentemente que "toda a sociedade, incluindo a Igreja", se una pela paz no caminho para a integração europeia.

A guerra também marcou uma ruptura para os cristãos ortodoxos na Ucrânia e a Igreja, que havia permanecido fiel a Moscou nos últimos anos, declarou sua independência em maio de 2022.

As autoridades ucranianas decretaram a celebração do Natal este ano no dia 25 de dezembro, uma ruptura com o calendário da Igreja Ortodoxa Russa, que celebra a festividade em 7 de janeiro.

F.Amato--PV