Pallade Veneta - Governo francês faz concessões, mas sindicato agropecuário mantém protestos

Governo francês faz concessões, mas sindicato agropecuário mantém protestos


Governo francês faz concessões, mas sindicato agropecuário mantém protestos
Governo francês faz concessões, mas sindicato agropecuário mantém protestos / foto: Dimitar DILKOFF - AFP

O governo francês anunciou, nesta sexta-feira (26), medidas para tentar acalmar os protestos dos produtores agropecuários que bloqueiam estradas em todo o país há oito dias. No entanto, o principal sindicato do setor considerou as medidas insuficientes e convocou a continuação do movimento.

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O primeiro-ministro, Gabriel Attal, prometeu, entre outras coisas, a eliminação do aumento do preço do diesel agrícola e reafirmou sua oposição à assinatura do acordo de livre comércio entre a UE e o Mercosul.

"Vocês quiseram enviar uma mensagem (...). A mensagem foi recebida alta e clara", disse Attal durante uma visita a um criador de gado em Montastruc-de-Salies, no sul da França.

Attal, nomeado neste mês como primeiro-ministro pelo presidente Emmanuel Macron, também anunciou um maior controle nas negociações entre produtores e distribuidores, auxílios a setores específicos como a agricultura orgânica e uma redução de trâmites administrativos.

No âmbito internacional, reiterou a oposição da França à "assinatura" do tratado negociado entre a UE e os países do Mercosul - Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai. "O presidente [Emmanuel Macron] sempre se opôs e continuamos e continuaremos nos opondo", garantiu.

O chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, reconheceu no dia anterior que a "atual crise da agricultura europeia" poderia representar um "obstáculo" para este tratado, que precisa do aval de todos os países da UE para ser assinado pela Comissão Europeia.

"Decidimos colocar a agricultura acima de tudo", insistiu o primeiro-ministro, em pé atrás de fardos de palha, garantindo que esta sexta-feira marca "um novo capítulo para a agricultura francesa".

- 'Continuar a mobilização' -

A mensagem, no entanto, não convenceu a FNSEA, principal sindicato do setor, que convocou os manifestantes a "continuar a mobilização".

"O que foi dito esta noite não acalma nossa raiva. Precisamos ir mais longe", declarou o presidente da FNSEA, Arnaud Rousseau, considerando que as medidas anunciadas eram "muito limitadas" e não atendiam a todas as reivindicações dos produtores.

No entanto, alguns agricultores fizeram uma avaliação menos negativa.

O criador Jérôme Bayle, que liderou o primeiro bloqueio da onda de protestos no sudoeste, considerou-se satisfeito com várias medidas, como a simplificação burocrática, e anunciou, sob aplausos de seus colegas, o fim dos bloqueios na autoestrada A64.

- 'Nosso trabalho é cultivar' -

A agricultura é um setor culturalmente importante na sétima maior economia do mundo, apesar de sua participação no Produto Interno Bruto (PIB) ter recuado fortemente de 18,1% em 1949, no período pós-Segunda Guerra Mundial, para 2,1% em 2022, segundo dados oficiais.

 

Pela manhã, os protestos já haviam forçado o fechamento de uma rodovia importante que conecta Paris ao norte da Europa e cerca de 400 quilômetros de estradas no sul da França, entre a cidade de Lyon (leste) e a Espanha, algo "nunca visto", segundo a empresa concessionária Vinci Autoroutes.

E, nesta sexta, incendiaram um prédio da segurança social dos agricultores MSA em Narbonne, no sul da França, e bloquearam o porto de Bayonne (sudoeste) e um depósito de petróleo na cidade portuária de Lorient (oeste).

- Defesa da UE -

Além do acordo com o Mercosul, a UE também estava na mira do setor por sua estratégia de combate às mudanças climáticas, que inclui medidas como a redução do uso de pesticidas.

"Sair da Europa é privá-los de 9 bilhões de euros anuais" (48 bilhões de reais) em subsídios, alertou Attal aos agricultores, anunciando que Macron pedirá a revisão de algumas condições para receber essas subvenções, como a obrigação de deixar 4% das terras aráveis em pousio.

Os protestos agrícolas, que também ocorreram na Polônia, Alemanha e Romênia, acontecem cerca de quatro meses antes das eleições para o Parlamento Europeu, instituição chave para estabelecer as normas ambientais do bloco. A extrema direita lidera as pesquisas na França.

"Gabriel Attal não anunciou nada que garanta a sustentabilidade e a renovação do modelo agrícola francês", escreveu no X Jordan Bardella, candidato de extrema direita nessas eleições.

C.Conti--PV