Pallade Veneta - Itália apresenta ambicioso plano de cooperação com África

Itália apresenta ambicioso plano de cooperação com África


Itália apresenta ambicioso plano de cooperação com África
Itália apresenta ambicioso plano de cooperação com África / foto: Andreas SOLARO - AFP

A primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, anunciou nesta segunda-feira (29), em uma cúpula em Roma, um ambicioso plano de ajuda à África em troca de uma maior cooperação em migração, em uma "nova página" nas relações com o continente.

Alterar tamanho do texto:

O objetivo desta conferência era apresentar o chamado Plano Mattei, em homenagem a Enrico Mattei, fundador da Eni, gigante italiana da energia pública.

Na década de 1950, Mattei defendeu uma relação de cooperação com os países africanos, ajudando-os a desenvolver seus recursos naturais.

Este plano "pode ter uma dotação inicial de mais de 5,5 bilhões de euros [28,9 bilhões de reais na cotação atual] entre créditos, doações e garantias", disse Meloni na abertura da conferência, sem especificar por quantos anos esse montante seria distribuído.

O presidente da Comissão da União Africana (UA), Moussa Faki Mohamat, destacou que "a agricultura, as infraestruturas, o meio ambiente, a energia, a saúde, a educação e a digitalização são as nossas principais prioridades".

A Itália, que este ano preside o G7, se comprometeu a fazer do desenvolvimento africano um tema central do seu mandato, em parte para aumentar sua influência em um continente onde países como China, Rússia, Turquia, Índia e Japão aumentaram sua presença.

Os "destinos" de Europa e África estão conectados, declarou Meloni.

A primeira-ministra também disse que estava decidida a cooperar "de igual para igual, longe de qualquer tentação predatória, mas também do enfoque caritativo para a África que não condiz com seu extraordinário potencial de desenvolvimento".

A Itália, ex-metrópole colonial de Líbia, Etiópia, Eritreia e da atual Somália, deseja trabalhar com os países africanos para "escrevermos juntos uma nova página em nossas relações", acrescentou.

Representantes de mais de 25 países compareceram nesta segunda-feira ao Senado, junto com os de agências da ONU, de instituições internacionais como o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial (BM) e o Programa Mundial de Alimentos da ONU (PMA).

Também compareceram os presidentes da Tunísia, Kais Saied, e do Senegal, Macky Sall, assim como de República do Congo, Eritreia, Quênia, Mauritânia, Moçambique e Zimbábue.

Outros países, como Argélia, Chade, Egito e República Democrática do Congo, enviaram alguns dos seus ministros.

- Sinergia -

"É essencial trabalhar em sinergia para aproveitar os numerosos recursos naturais disponíveis na África, não só para desenvolver ainda mais o continente e fortalecer a nossa parceria, mas também e acima de tudo, para acabar com os fluxos migratórios de africanos, muitas vezes mortais", disse Azali Assoumani, presidente da UA.

Faki Mohamat declarou que a África estava disposta a "discutir o conteúdo e a implementação" do plano. No entanto, acrescentou que gostariam de "ser consultados antes".

Também insistiu que queria passar "das palavras aos fatos", e que não bastava fazer "promessas que frequentemente não se cumprem".

A Itália espera envolver todos os atores internacionais em um plano que inclui também a educação, os sistemas sanitários e o fornecimento de água.

No entanto, os especialistas salientam que não será fácil obter o apoio da União Europeia, que já apresentou um projeto de ajuda para a África de 150 bilhões de euros em 2022 (896 bilhões de reais, na cotação de 10/02/2022).

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, considera que o plano italiano "é complementar" ao da UE.

Georgia Meloni chegou ao poder em 2022 com um programa contra a imigração e espera transformar a Itália em uma ponte entre Europa e África.

Cerca de 40 organizações da sociedade civil africana estavam preocupadas com o fato de que o objetivo do plano seja apenas "aumentar o acesso da Itália ao gás fóssil africano em benefício da Europa e reforçar o papel das empresas italianas na exploração dos recursos naturais e humanos da África".

A nível migratório, o Plano Mattei pretende abordar os chamados "fatores de incentivo" e persuadir os países de origem a assinarem acordos de readmissão para migrantes rejeitados.

Apesar da promessa de Meloni de acabar com a chegada de embarcações do norte da África, os desembarques na Itália aumentaram consideravelmente desde que ela assumiu o cargo, passando de cerca de 105 mil migrantes em 2022 para quase 158 mil em 2023.

A.Tucciarone--PV