Pallade Veneta - Vladimir Putin, um 'czar' guerreiro em busca de grandeza internacional

Vladimir Putin, um 'czar' guerreiro em busca de grandeza internacional


Vladimir Putin, um 'czar' guerreiro em busca de grandeza internacional
Vladimir Putin, um 'czar' guerreiro em busca de grandeza internacional / foto: Sergey GUNEYEV - POOL/AFP

Com a invasão da Ucrânia, a repressão na Rússia e sua confrontação com o Ocidente, Vladimir Putin se tornou um chefe de guerra autoritário, no poder há um quarto de século e que agora aspira a permanecer no Kremlin por mais seis anos.

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Nesta sexta-feira (8), Putin anunciou sua candidatura a um quinto mandato nas eleições de 17 de março de 2024. Já completou dois mandatos de quatro anos e dois mandatos de seis anos, com um interlúdio como primeiro-ministro.

O sistema de poder de Vladimir Putin, oriundo da KGB soviética e que chegou ao Kremlin em 31 de dezembro de 1999, confirmou duas características ao longo dos anos.

A primeira é o constante endurecimento do sistema, contra os oligarcas, com a segunda guerra na Chechênia, a redução das liberdades públicas e a repressão dos meios de comunicação social e da oposição.

A segunda característica é o reforço de sua presença internacional, com a guerra da Geórgia (2008), a anexação da Crimeia ucraniana (2014), a intervenção militar na Síria (2015) e a invasão da Ucrânia (2022).

A Europa, em particular a Alemanha de Angela Merkel, acreditou equivocadamente que iria canalizar essas ambições, apostando na codependência econômica, mediante maciças compras de gás russo.

Mas Putin parece imparável e, aos 71 anos, aspira a uma nova eleição presidencial, marcadas para 17 de março.

Embora esteja envolvido na guerra na Ucrânia, onde seu Exército sofreu derrotas humilhantes, ele persiste e espera obter uma vitória por desgaste.

Em seus discursos de tom marcial, marcados pelo revisionismo histórico, Putin acusa a Ucrânia de nazismo, diz querer anexar territórios e considera esse conflito uma guerra com os Estados Unidos por trás.

Segundo ele, a sobrevivência da Rússia está em jogo. Por isso, pune com prisão aqueles que se opõem à invasão da Ucrânia. Há milhares de russos processados, perseguidos e presos.

Putin não se importa com as sanções ocidentais, nem com o fato de o Tribunal Penal Internacional (TPI) tenha-no processado pela acusação de deportação de crianças ucranianas. Considera que sua missão é se livrar da hegemonia ocidental.

- Marcado pela derrota -

Putin era um agente da KGB, instalado na Alemanha Oriental na década de 1980, e continua marcado pela desintegração da União Soviética, um sinal da derrota de Moscou na Guerra Fria.

Para atingir seus objetivos, conta hoje com o apoio diplomático da China. A Ásia, com a Índia à frente, está comprando petróleo russo, e Putin assegura que a África vê a Rússia como um aliado contra o "neocolonialismo" ocidental. Ele também pretende obter armas do Irã e da Coreia do Norte.

O líder russo quer, ainda, ser o porta-bandeira dos valores "tradicionais", frente ao que considera a decadência moral do Ocidente e, em particular, sua tolerância para com a comunidade LGTB+.

Com o fracasso da contraofensiva ucraniana em meados de 2023, Putin se sente mais forte e aproveita a divisão ocidental sobre a continuação da ajuda militar a Kiev.

Em plena pandemia da covid-19, conseguiu que a Constituição fosse modificada para poder concorrer à presidência em 2024 e 2030, mas tem muitos desafios pela frente.

A guerra na Ucrânia está longe de ser uma vitória russa e a capacidade dos russos, da elite e da economia para resistir a este conflito no longo prazo permanece uma incógnita.

Em junho, o motim dos mercenários do grupo Wagner, liderado por Yevgueni Prigozhin, até então leal a Putin, foi um exemplo de oposição, embora os líderes rebeldes tenham sido mortos mais tarde no que foi descrito como um acidente de avião fortuito.

Segundo a analista russa Tatiana Stanovaya, o custo do conflito está aumentando para Moscou.

"A guerra está esgotando a Rússia (…) claro que pode durar muito tempo, mas o preço a pagar é gigantesco", comentou a cientista política em uma nota recente no Telegram, lembrando que, aos 71 anos, "Putin não é eterno".

Para muitos russos, Vladimir Putin continua a ser o homem que devolveu a honra à Rússia, minada pela pobreza, pela corrupção e pelo declínio alcoólico do presidente Boris Yeltsin na década de 1990.

Aos 47 anos, quando chegou ao Kremlin, prometeu amizade aos líderes ocidentais e desenvolveu a economia, aproveitando o preço favorável dos hidrocarbonetos.

Em meados da década de 2000, porém, começou o divórcio com o Ocidente. Acusou a Otan de ameaçar a Rússia, ao se expandir, e censurou os Estados Unidos, por se considerarem o "único soberano" do mundo.

A.Tucciarone--PV